Histórias de Sucesso
18/03/2020 por Mariana Mortani
Tempo de Leitura: 5 minutos
As três meninas vieram de famílias humildes e cresceram já lidando com as dificuldades de ser mulher e negra em uma sociedade preconceituosa.
Aghata, por exemplo, sempre estudou nas melhores escolas da Zona Oeste, pois os seus pais fizeram de tudo para lhe garantir o ensino que não tiveram. Mesmo assim, ela não acreditava ter potencial para ser um destaque. Ainda mais se sentindo tão destoada das meninas de seu convívio.
“Eu me sentia diminuída por outras meninas na escola e, às vezes, era diminuída também pelos professores”, revela ela.
Além disso, a futura Administradora lembra que, na época, era muito raro ter a figura de uma mulher em posição importante. Ainda mais uma mulher negra.
“Eu achava que a mulher tinha nascido para arranjar um marido e cuidar da casa e que toda a vida dela gira em torno disso, até que, no Ensino Médio, conheci um grupo de meninas que me fez mudar a minha visão quanto ao ‘meu papel’ como mulher”, lembra com carinho.
Essas meninas faziam parte de um grupo que se ajudava e apoiava – algo decerto inédito para Aghata. Elas, inclusive, a incentivaram a participar da EXPox, uma Feira de Tecnologia e Inovação, da qual ela saiu vencedora por 2 anos consecutivos.
Ao ganhar o primeiro lugar do curso Técnico em Administração com o seu grupo, tudo começou a mudar.
“Ali comecei a entender que tudo era possível”, afirma ela.
Ao entrar na faculdade, ela sentiu que a conexão com Marcelly e Danielle foi “instantânea”.
“Viramos melhores amigas de uma aula para outra”, comenta sorrindo.
Entretanto, foi em um momento de dificuldades financeiras, e após uma conversa despretensiosa, que o elo foi se estreitando.
Marcelly foi a responsável pela ideia. “E se a gente montasse um brechó?”, ela perguntou para as outras sem planos concretos.
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Aos 23 anos, ela estava desempregada depois de passar os últimos 4 anos dividindo o seu tempo entre o trabalho e a faculdade, mas sabia que não podia parar.
“Minha tia é professora e me alfabetizou em minha própria casa. Ela é uma das minhas inspirações de mulher negra que lutou e conquistou a sua Graduação. Eu sabia que também podia conquistar”, compartilha ela com orgulho.
A aluna conta que conciliar o trabalho e os estudos a “tornou uma mulher ainda mais forte e determinada”, e que, acreditando no seu potencial e no das amigas, foi a responsável pelo pontapé inicial para a criação e o crescimento do brechó Amada’s.
A ideia era simples: vender roupas que elas já não usavam mais. Posteriormente, elas se deram conta que o projeto tinha muita força.
“Fizemos estoque, precificamos, planejamos e botamos o brechó para funcionar através de uma rede social”, contou ela.
“Organizamos tudo, como boas Administradoras que somos”, acrescentou Aghata, que sempre teve muito incentivo dentro de casa, porém cobranças “excessivas” apenas por ser uma mulher negra, sentiu que a ideia podia ir muito além.
Com a ajuda da Coordenadção do curso de Administração UNISUAM, as meninas começaram a cursar a matéria Projeto Integrador IV, que, conforme o seu objetivo, proporcionou a elas uma oportunidade de colocarem os seus conhecimentos em prática e se preparem efetivamente para o mercado de trabalho.
“A Professora Sissiliana se preocupou em nos oferecer o melhor, ela esteve sempre presente para nos ajudar e conseguimos ter como nosso orientador o Prof. Diego, que nos auxilia com o nosso projeto, que no caso era a nossa loja”, contou Danielle, que já tinha uma relação de gratidão com a professora.
Quem cuida da parte de logística do negócio é Danielle, que sente que a faculdade a fez crescer muito como mulher e como profissional.
Ela ingressou na UNISUAM, em 2016, por meio do Vestibular Solidário, sendo uma das primeiras colocadas e ganhando bolsa integral para os estudos.
Desde cedo, contou com o incentivo e o investimento dos pais, que queriam lhe proporcionar os melhores estudos e tudo o que não tiveram. Para eles, ver a filha dentro desse projeto tem um gostinho ainda mais saboroso: o de renascimento.
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Danielle vinha passando por dificuldades que quase a levaram à morte. Após ser internada, ela recebeu uma ligação da Coordenadora do curso, que nem a conhecia, mas havia tomado conhecimento de seu caso através do NAPP, o nosso Núcleo de Apoio Psicopedagógico.
Foi por meio desse apoio que Danielle soube que poderia se reinventar e continuar o sonho de sua Graduação.
“A Sissiliana é uma grande referência para nós, mulheres e universitárias. Da mesma forma, queremos inspirar muitas outras mulheres através do nosso brechó”, acrescenta.
Hoje, o projeto está caminhando e as meninas estão conseguindo, aos poucos, colocar a identidade de cada uma no brechó.
A mãe de Danielle, dona Elisete, faz questão de recepcionar as meninas com lanches em casa para as sessões de foto, assim como Gabriel e Marcos, namorados de Aghata e Marcelly, que ajudam na fotografia.
“Queremos dar a nossa cara: de mulheres fortes. Além de ser um troca-troca de peças, o brechó é a gente. Tem um pouquinho da Agatha, um pouquinho da Marcelly, um pouquinho da Dani… é a gente”, declara Aghata.
As meninas querem se aproximar do seu público-alvo, compartilhar e conhecer histórias de outras mulheres negras que, assim como elas, são capazes de fazer qualquer coisa.
“Queremos mostrar mostrar que não são as suas posses ou, infelizmente, a sua cor, que irão dizer o que você é ou não capaz de fazer”, explica Aghata que, recentemente, compartilhou um pouco da história delas em um post nas redes sociais do brechó.
Hoje, com tantos espelhos em suas vidas, muitas mulheres que estão no topo, as meninas se sentem felizes por estarem caminhando em busca de crescimento profissional e por poderem inspirar outras meninas.
“Me sinto forte e capaz pra fazer qualquer coisa. Ser quem eu quiser ser”, finaliza Marcelly.
Mariana Mortani é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e pós-graduada em Marketing Digital - Negócios e Estratégicas. Foi colunista do jornal Pauta Rio e do portal UNISUAM News. Também é formada em Tradução Editorial e já traduziu 5 livros com protagonismo LGBTQIA+, apresentou mais de 50 eventos literários e foi organizadora da 1ª Edição da Feira Literária da Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 2021, foi parte da organização da 2ª edição da FliCadê, o primeiro festival online de literatura LGBTQIA+ no Brasil. Também possui um canal no YouTube sobre literatura e cinema com mais de 1,5 milhões de visualizações.
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