Não, não é fácil vestir o seu fio de conta e publicar o que tem a dizer para o mundo. Não são todas as redações que vão abrir as portas para as suas histórias, tampouco universidades. Por muitos anos, a nossa tradição não passava de um parágrafo nos livros estudantis, pesquisada e escrita por quem não conhece e não vive diariamente o que vivemos: o racismo.


Ser o primeiro pai de santo, o primeiro sacerdote de culto de matriz africana, a ter espaço nos principais veículos de forma online no Brasil, me colocou na linha de frente da responsabilidade de dar voz ao nosso povo, o povo de axé. Hoje, publico uma das mais importantes notícias que já tive a honra de compartilhar com meus leitores. Celebramos, finalmente, o Dia Nacional de Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé.


A lei foi sancionada logo no início do novo governo, o que nos traz esperança para a renovação. Vivemos tempos sombrios com terreiros incendiados, médiuns apedrejados, pais e mães de santo expulsos de suas comunidades entre outros exemplos tristes para a nossa história. Não dá mais! A data de hoje marca o que a sociedade precisa entender: temos o nosso espaço e merecemos respeito.


As nossas tradições estão na vestimenta, na culinária, na música, na religiosidade, no vocabulário e em toda a construção social. Até quem nos persegue vive a nossa história. A ignorância não os permite alcançar o conhecimento de que a nossa raiz está no sangue de cada filho nascido neste chão.


Vocês, universitários de raízes de matrizes africanas, têm o dobro do caminho pela frente, pois a luta contra o preconceito não acabou. Não desistam! Estou aqui para dizer que venci muitos preconceitos e tabus. Acreditei nos búzios, nas cartas e trilhei o caminho indicado pelos Orixás.


Trilhem com fé, com garra, com esforço, mas principalmente eliminando a palavra ‘’desistência’’ do vocabulário. Desistir não é uma opção. Honre o nosso povo e as nossas tradições. Vocês existem. Nós existimos. Ergam seus diplomas!


O dia de hoje é uma vitória, afinal, vocês celebram esta data com a oportunidade que os nossos ancestrais não tiveram, de estudar e ter uma perspectiva de futuro. Parabéns, vencedores! Axé!